A LINGUAGEM DA ÁGUA
Para o filósofo grego pré-socrático Empédocles (495 a.C – 430 a.C.), a essência da vida resultava da interação dos quatro elementos — água, terra, fogo e ar — com duas forças, a do amor e a da discórdia. Quando o amor predomina, os elementos estão integrados em equilíbrio. Se a discórdia se instala, gera-se o caos. A mesma água que mata a sede, que refresca o corpo, que abençoa, que lava, que irriga alimentos e que encanta os olhos, também tem seus dias de mau humor. Trombas d’água, temporais, enchentes, alagamentos, tsunamis, maremotos — e outros que a ciência moderna chama de “eventos extremos” — têm sido cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo.
Talvez Iemanjá, Iara, Netuno, Nossa Senhora dos Navegantes, Oxum, as Sereias, Poseidon, a Mãe d’Água, ao agitarem as águas, queiram nada mais que nos chamar a atenção para a necessidade de amarmos uns aos outros, ao mundo, a nós mesmos e às águas. Para o nosso próprio bem, precisamos ouvir esse chamado. Afinal, nosso corpo é 70% água, assim como o planeta é 70% oceano.
Se há um chamado, é porque a água se comunica. Sua linguagem é contínua, fluida, permeável, profunda, mutante, líquida. Justamente por isso, para perceber este idioma, é preciso muita atenção. A exposição Tromba D’Água traduz a linguagem aquática para nossa desatenta percepção. O que ela te diz?
Fabio Scarano, curador do Museu do Amanhã
Instituto Artistas Latinas
O Instituto Artistas Latinas, desde 2019, busca fortalecer a ampliação do conhecimento sobre a produção de artistas mulheres na arte contemporânea. Por meio de uma plataforma digital, reúne centenas de nomes e biografias de todas as regiões da América Latina, promovendo intercâmbios de pesquisa e expandindo o mapeamento de conexões artísticas entre os países. As redes sociais do Instituto funcionam como amplificadoras do trabalho de artistas e de iniciativas que trazem visibilidade para a produção artística de mulheres. Esse conjunto permite uma maior atuação do Instituto em outras localidades, impactando diretamente doze países, seja por meio de iniciativas presenciais ou virtuais.
Além disso, o Instituto desenvolve e difunde conteúdos diversos que consolidam o diálogo de arte contemporânea, oferece ações educativas e de formação livre, organiza projetos de exposições e institucionais, realiza consultoria para coleções públicas e particulares, promove participações em feiras de Arte e facilita cursos voltados ao protagonismo feminino.
É com grande honra que o Instituto Artistas Latinas exibe a exposição Tromba D`água, em sua primeira itinerância, no Museu do Amanhã. Apresentada pela primeira vez no Sesc São Gonçalo, em 2024, iniciamos um projeto de circulação da mostra como um desejo de avançar e expandir as discussões que fomentam o papel da arte contemporânea junto ao pensamento sobre ecologias e presentes/futuros possíveis. Todas as catorze artistas convidadas para ocupar este espaço traduzem, em poéticas próprias, a relação direta e subjetiva com a principal fonte da vida humana e suas principais controvérsias e desdobramentos sociais, raciais e econômicos.
Tromba d’Água
Gota
Goteira
Chuva
Chuvarada
Cascata
Cachoeira
Enxurrada
Tromba d’água
Força soberana, correnteza, intensidade incontrolável que rompe as margens e conecta o mar, o céu e os rios.
As águas estão para a humanidade como o sol está para os planetas. A vida orbita os seus contornos, se agrupando em uma atração gravitacional que permite a sobrevivência. Sua potência estrutura sociedades, oferece de beber e de comer, gera energia, funciona como transporte e expõe a ingenuidade daqueles que pensam ter o poder de dominá-las.
O fenômeno da tromba d’água, nos oceanos, conecta o mar e o céu por um vórtice colunar, uma espécie de tornado que liga as nuvens à superfície da água. Forma-se um elo, um pacto, uma ponte entre a vida marítima e os poderes celestes. Sua imagem impõe o poder que a água, enquanto ação, possui.
Nos rios, sua robustez pode ser fatal para quem não está atento aos sinais das águas, que costumam anunciar a chegada de uma correnteza violenta. Também conhecida como “cabeça d’água”, o fenômeno tromba d’água nas águas doces acontece pelo excesso de chuvas no entorno de uma nascente, que intensifica o fluxo e arrasta tudo que encontra pela frente. Sua intensidade tem a capacidade de romper e modificar as margens.
A exposição Tromba d’Água reúne elaborações de catorze artistas latino-americanas sobre a coletividade enquanto catalisadora de transformações. As obras de Alice Yura, Azizi Cypriano, Guilhermina Augusti, Jeane Terra, Luna Bastos, Marcela Cantuária, Mariana Rocha, Marilyn Boror Bor, Natalia Forcada, Rafaela Kennedy, Roberta Holiday, Rosana Paulino, Suzana Queiroga e Thais Iroko perpassam assuntos ligados à espiritualidade, em uma relação íntima com as divindades que regem as águas, à ancestralidade, em uma perspectiva espiralar e matriarcal, e à intrínseca relação do feminino com a natureza, em sua potência de nutrir e transformar. Em conjunto, encontramos trabalhos que versam sobre o modo como histórias, memórias e imaginações matrilineares atravessam as barreiras impostas à existência das mulheres.
Em um contexto social que pretende sufocar, soterrar e ignorar essa pulsão ambiental, o fenômeno da tromba d’água surge como uma alusão ao respeito que devemos ter por essa energia impetuosa. Nesta exposição, as características das águas criam espaço para trilharmos outros percursos na construção de uma sociedade pautada em relações sensíveis entre a humanidade e a natureza. Aqui, as artistas apresentam propostas que ignoram os obstáculos que poderiam limitar sua agência e abrem os caminhos que um dia estiveram obstruídos.
Ana Carla Soler, Carolina Rodrigues e Francela Carrera, curadoras da exposição
É sobre Justiça Climática
A América Latina é a segunda região global mais suscetível aos efeitos das mudanças climáticas que acontecem por efeito da ação humana extrativista, desenvolvimentista e lucrativista. As tempestades, inundações e enchentes são alguns dos desastres comuns em regiões de climas tropicais. Desde a invasão e colonização europeia, o conceito estabelecido sobre progresso envolve propostas de urbanização que concretam o que antes eram ferramentas naturais de escoamento de água. Essas propostas também constroem edificações em regiões onde havia afluentes e erguem verdadeiras fortalezas para fazer uso dos recursos naturais, abusando do consumo de combustíveis fósseis.
Sobre as notícias das inundações recentes no Rio Grande do Sul, muitas pessoas se sensibilizaram com a trágica perda de vidas, bens materiais e imateriais das pessoas que tiveram as suas casas dominadas pelas águas. Foram reunidos esforços por meio de doações, resgates organizados pela sociedade civil e ativação de consciência sobre como ajudar. Entretanto, em momentos como esse, torna-se ainda mais importante compreender e cobrar o poder estatal em relação à segurança das populações que vivem ao longo das margens das águas.
Não é possível ignorar as pautas de justiça climática, conceito que torna evidente quem são as pessoas que sofrem de forma mais violenta às consequências das catástrofes. Nas periferias de onde se concentra o capital, habitam as populações mais vulneráveis. Em situações de emergências são essas regiões que sofrerão com maior violência às consequências das ações humanas contra o meio ambiente.
Esta exposição busca redirecionar a atenção, evidenciando o respeito fundamental às relações com a natureza e, principalmente, as estâncias político-empresariais dessas relações. É urgente a prevenção e a mitigação de futuros desastres ambientais e suas consequências. Assim como se faz necessário coibir qualquer tipo de desmatamento e contenção das ações da modernidade que agem estrategicamente na destruição do ecossistema.
Ana Carla Soler, Carolina Rodrigues e Francela Carrera, curadoras da exposição
Ficha Técnica
MUSEU DO AMANHÃ
Diretor Executivo
Cristiano Vasconcelos
Curador
Fabio Scarano
Gerência Geral de Conteúdo
Camila Oliveira
Exposições
Caetana Lara Resende
Ingrid Vidal
Julia Deccache
Julia Meira
Guilherme Venancio
Rafael Salimena
Nathália Simonetti
Lorena Peña
Equipe de Museologia
Tatiana Paz
Fabiana Motta
Camilla Brito
Atendimento ao Público
Wagner Turques Guinesi
Alice Villa Frango
Nilson da Silva Ramos
Alessandra Batista da Conceição Penna
Brenda Pinheiro de Oliveira
Caio Correa de Sousa
Caue de Albuquerque Barroso
Douglas Porto Velho
Fernando Lopes Barbosa
Gabriel da Silva Ramos
Guilherme Augusto Gouveia
Igor Pereira Alencar
Ismael Freire de Almeida
Jose Americo da Rocha Filho
Jose Francisco de Souza
Luis Rodrigo dos Santos
Mariana Macedo do Nascimento
Matheus dos Santos Oliveira
Queren Priscila Oliveira de Souza
Rafael de Souza de Almeida
Raisa Medeiros de Oliveira
Shirlei de Oliveira Chagas
Vinicius Marcelo de Oliveira dos Santos
Vitor Santos da Silva
Yan Gomes Silveira
Educação Museal
Stephanie Santana
Renan Freira
Bianca Paes Araújo
Bruno Baptista
Fernanda De Castro
Juan Barbosa
Julia Mayer
Juliana Câmara
Marcus Andrade
Maria Luiza Lopes
Nicolle Portela
Nicolle Soalheiro
Thainá Nunes
Vinicius Andrade
Vinicius Valentino
Instalações Audiovisuais
Luiz Lima
Ana Barth
Bruno Carreiro
Edson Castro
Vanderson Vieira
Inovatec Soluções Audiovisuais
Instalação Elétrica
Francisco Galdino
Diogo Freire
Marlon Vidal
Silas Miranda
Alexandre Souto
Jefton Elias
Ezequiel Tavares
Jose Petrucio
Camila Fraga
EXPOSIÇÃO TROMBA D`ÁGUA
Curadoria
Ana Carla Soler, Carolina Rodrigues e Francela Carrera
Artistas
Alice Yura, Azizi Cypriano, Guilhermina Augusti, Jeane Terra, Luna Bastos, Marcela Cantuária, Mariana Rocha, Marilyn Boror Bor, Natalia Forcada, Rafaela Kennedy, Roberta Holiday, Rosana Paulino, Suzana Queiroga e Thais Iroko
Direção Geral e Artística
Paulo Farias
Direção de Produção
Marianna Botelho
Produção
Lorena Peña | Museu do Amanhã
Órbita Produções
Projeto Expográfico
Gisele de Paula Arquitetura
Projeto de Design
Marina Castilho
Projeto de Iluminação
Katona Design
Assistentes De Expografia
Iolaos Coelho
Alexandra Souza
Cenotécnico
Cactus Produções
Gráfica
Base Comunicação Visual
Montagem Fina
Kbedim
Museologia
Laura Ghelman
Débora Koury
Acessibilidade de Conteúdo
Jéssica Valente – Intérprete De Libras
Igor Affonso – Desenvolvimento De Obras Táteis
Paju Sa Engenharia - Piso E Mapa Tátil
Advogado
Gabriel Reis
Agradecimentos
Irana Gaia, Melissa Ganaha, Cida Paulino, Lorenna Gaetti, Mendes Wood DM, Marcio Botner, Bianca Bernardo, Luiza Martelotte, A Gentil Carioca, Galeria Matias Brotas, André Stock e Roberto Calmon, Tonico Pereira, Wellington Ribeiro, Daniel Freitas, Ana Portocarrero, Fabiano Cunha, Caetana Nestorov, Julia Deccache, Ingrid Vidal, Camila Oliveira e toda equipe do Museu do Amanhã
INSTITUTO ARTISTAS LATINAS
Presidente
Paulo Farias
Vice Presidente
Marianna Botelho
Secretária
Priscila Dantas
Conselho Curatorial
Ana Carla Soler, Carolina Rodrigues e Francela Carrera
Arquiteta
Gisele De Paula
Advogados
Gabriel Reis
Haline Vaz